Pedro Anacleto | @ochocobogordo
A semana do meu aniversário sempre é marcada por um sentimento de grandes expectativas quanto a esta data. Eu me acostumei a procurar as surpresas e assim ganhar tempo para regular qualquer crise, ansiedade ou frustração que essa data é capaz de provocar em mim.
Sempre entendi o aniversário como um dia em que eu tenho certos direitos. Mas eu não gosto de bolos e sempre fugi de todas as cobranças sociais, mesmo que eu queira elas intensamente. Meus arquétipos introvertidos e extrovertidos entram em guerra na minha cabeça, e a semana do evento é uma grande exaustão por conta disso. É como se toda minha dificuldade de manutenção social me impedisse de aproveitar essa época de forma convencional.
Me sinto extremamente confuso se a data é sobre mim ou sobre atender às expectativas das outras pessoas sobre as convenções e rituais sociais para comemorar o aniversário.
Aline Gior | @gior.aline
Existe uma frase no filme “Soul” que conta a história de um peixe que queria chegar ao oceano. Então os outros peixes disseram “Este é o oceano”. E o peixinho disse “Isso aqui é só água, eu quero o oceano”. Nada consegue traduzir tão bem essa questão minha com aniversário.
Eu acordo feliz porque sei que vou ganhar presentes, sei que é o dia em que pessoas que eu amo vão falar comigo, que eu vou passar um dia especial com a minha filha. Mas o aniversário em si pra mim não tem muita graça. Aliás, não tem graça alguma. Eu até faço posts animados, vídeos, expresso felicidade porque eu estou naturalmente feliz pelos motivos citados acima. Mas a “magia” do aniversário eu não sinto, eu nunca senti. Inclusive me culpo por isso. Me culpo por não sentir o que eu acho que deveria sentir, me culpo por fingir que sinto porque senão pessoas questionam por que eu estou de “cara fechada” no meu aniversário (não estou, minha expressão neutra que é assim meio sisuda), daí eu tenho que dobrar o masking porque, por algum motivo, exigem que a gente seja um sorriso ambulante no aniversário. Nada tem sentido.
Eu fico feliz no meu aniversário da mesma forma que eu fico na festa junina com um copo de vinho quente e um espetinho de carne, ou no natal comendo salpicão e vendo a felicidade das pessoas trocando presentes e se descrevendo de formas criativas no amigo secreto. Ainda não consegui entender meus sentimentos com relação ao aniversário em si, só com as pessoas e presentes, que poderiam acontecer em qualquer data. Talvez eu fique feliz por ser mais velha que a suposta expectativa de vida dos autistas que seria 36 anos. Quem sabe agora no meu quadragésimo eu consigo entender?
Autistinha | @autista_autistando
Aniversários são datas difíceis para mim. Minha família sempre quer comemorar junto comigo, mas como não sou assumido trans para eles, é muito difícil eu me sentir obrigado a ficar com eles, pois se eles soubessem que sou trans, a última coisa que eles iriam querer era ficar comigo no meu aniversário.
A outra parte da verdade, é que a data muda toda a minha rotina, eu coloco aquela expectativa gigantesca que eu não tenho o controle e eu nunca sei se eu estou pronto para socializar com as pessoas e fazer uma festa ou se eu fico na minha e me arrependo depois.
A melhor parte são os presentes, embora cada ano eu receba menos. Como uma pessoa autista, eu vejo que as pessoas não entendem muito o meu lado quando eu fico hiperfocado no meu próprio aniversário, mesmo não querendo comemorar, mesmo não gostando dessa data em específico, é tudo que eu consigo pensar e falar.
A Zabela | @ikhartmann
“Eu detesto aniversários, acho que comemorações em geral eu não gosto, mas muito num sentido de que um monte de gente começa a me ligar e aí é uma demanda social tão grande que eu não consigo atender. Tem gente que fica querendo fazer surpresa, e eu odeio surpresa com todas as minhas forças. Eu sempre estrago as surpresas, pois eu fico muito brava. Eu preciso planejar todos os meus dias milimetricamente, se algo sai desse planejamento, eu fico muito brava. […] Meus aniversário perfeito por muito tempo era passar o aniversário com minha melhor amiga, jogando Skyrim a noite inteira e no dia seguinte comendo o bolo que minha mãe comprava.”

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