Burnout vs. esgotamento autista

O burnout autista, ou esgotamento autista, não é apenas o burnout sendo experienciado por uma pessoa autista, mas sim uma condição distinta com diferentes causas e sintomas em comparação com o burnout clássico. Vamos entender primeiro como funciona o burnout.

Burnout

Na década de 1970, o psicólogo Dr. Herbert Freudenberger, cunhou o termo burnout ao descrever um “estado de exaustão física e mental causado pela vida profissional”.

Freudenberger trabalhava 10 horas por dia em seu consultório particular como psicólogo e, em seguida, fazia um segundo turno completo na clínica gratuita de St. Mark, lidando com jovens com vícios e outros problemas de saúde. Freudenberger era hiperempático, dizia que os problemas dos desfavorecidos eram seus problemas também. Quando a clínica fechava, ele e a equipe de voluntariados realizavam reuniões até altas horas da madrugada, depois disso, ele ia para casa, dormia algumas poucas horas e, ao se levantar, repetia tudo de novo no dia seguinte. Após um ano seguindo essa rotina, sua filha o encontrou incapaz de se levantar da cama. Desta forma, sua experiência pessoal o levou a definir uma condição pela qual ele sabia que a maioria das pessoas que trabalhavam para além do limite do que era saudável iriam experimentar.

Em 2015, a OMS incluiu o burnout na CID-10 (10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças), tornando a condição um distúrbio clínico. Em 2022, a CID-11 refinou o termo descrevendo-o como “uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.” Ela é caracterizada nas três dimensões:

  • Sentimento de esgotamento ou exaustão de energia;
  • Aumento do distanciamento mental em relação ao trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao ambiente laboral;
  • Eficácia profissional reduzida.

O burnout refere-se especificamente a fenômenos do contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida.

São definidas seis causas principais do burnout, sendo a sobrecarga de trabalho a principal delas:

  • Carga excessiva de trabalho;
  • Percepção de falta de autonomia e microgerenciamento;
  • Falta de reconhecimento ou recompensas;
  • Relacionamentos ruins no trabalho;
  • Ser tratado injustamente;
  • Falta de correspondência em relação aos valores pessoais e profissionais.

O esgotamento autista

Definido por Dora M. Raymarker et. al. (2020), o esgotamento autista “é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico da vida e de uma incompatibilidade de expectativas e habilidades sem suportes adequados. É caracterizada por exaustão generalizada e de longo prazo, normalmente acima de 3 meses, além da perda de função e tolerância reduzida ao estímulo.

As principais causas para o esgotamento autista são os estressores da vida que aumentam a carga cumulativa experimentada e as barreiras ao suporte que criam uma incapacidade de obter alívio da carga.

Com base nessas causas e definições, é fácil ver o por quê autistas sofreriam com o burnout – tanto o burnout clássico como o esgotamento autista. Enquanto o burnout clássico normalmente decorre do trabalho, o esgotamento autista ocorre devido as demandas sociais, mascaramento e viver em uma sociedade inflexível.

É importante saber que diferentes condições com diferentes causas resultarão em diferentes sintomas e requisitos de tratamento. Portanto, como saber se estamos em um burnout clássico ou um esgotamento autista?

O burnout geralmente ocorre quando os recursos para atender às demandas da vida ficam aquém da capacidade de atender a essas necessidades. Ser autista adiciona toda uma camada extra de ordens das quais os não-autistas não tem consciência. Isso inclui demandas sensoriais, sociais e de comunicação. É uma carga cumulativa. Raymarker descreve que o esgotamento autista ocorre devido ao estresse crônico da vida e a uma incompatibilidade entre expectativas e habilidades.

Como as formas mais regulares de burnout – comuns entre indivíduos com altas cargas de estresse no trabalho ou em ambientes tóxicos – que resultam de estresse crônico e esforço excessivo consistente, o esgotamento autista pode igualmente seguir períodos de estresse intenso e exposição prolongada aos ambientes desafiadores. Mas os estressores que desencadeiam o esgotamento autista incluem sobrecarga sensorial, demandas sociais e mudanças na rotina.

Tradução livre do artigo: Burnout vs. esgotamento autista – Embrace Autism para leitura no Grupo de Estudos e Acolhimento.

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