A maioria de nós conhece os cinco sentidos básicos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Estes sentidos definem a forma como percebemos o mundo sensorialmente. Outros três sentidos, entretanto, são menos conhecidos, mas tão importantes quanto: o sentido vestibular, responsável pela orientação espacial, postura e equilíbrio; a propriocepção, que permite a realização de movimentos com precisão; e a interocepção, que ajuda a pessoa a entender o que está acontecendo dentro do corpo, como fome, sede, sensação de calor ou frio, fadiga ou bexiga cheia.
As alterações sensoriais no autismo podem afetar todos os sentidos. Em relação ao sentido vestibular, você já deve ter ouvido falar das mãozinhas de dinossauro ou formas atípicas de sentar, como o sentar em W. A propriocepção pode ser afetada pela dificuldade na coordenação motora fina, por exemplo. E a interocepção vai influenciar, inclusive, na capacidade de interpretar emoções. Não compreender este sentido pode tornar a autorregulação um desafio problemático para a maioria dos autistas.
Compreender as sensações corporais podem ajudar a interpretar o que está acontecendo dentro do corpo, e tomar uma ação adequada para isso. Se sua bexiga estiver cheia, você precisa urinar. Se o coração está batendo rápido, você pode precisar respirar fundo algumas vezes para desacelerá-lo. Pessoas autistas podem ter dificuldades em entender essas informações do corpo. Elas podem não conseguir identificar quando estão sentindo dor ou fadiga. A coceira pode ser sentida como dor ou a dor pode causar cócegas. Elas podem não ter a sensação de precisar defecar e segurar a evacuação, levando à constipação; ou achar que precisam ir ao banheiro várias vezes para urinar, quando a bexiga nem está tão cheia.
A interocepção também afeta a interpretação das emoções. A emoção pode não ser percebida como ela realmente é, e pode ser extremamente difícil dar um nome pra ela. Isso chamamos de alexitimia. Se você não consegue se sintonizar com os sinais corporais que ajudam a interpretar as emoções, fica mais difícil identificá-las e tomar uma ação adequada para sua regulação. É importante reconhecer este aspecto, pois não sentir adequadamente as emoções afeta o comportamento de uma pessoa. Por exemplo, uma criança pode não reconhecer o medo porque não reconhece que músculos tensos, respiração superficial e coração acelerado são sinônimos de medo. A reação, portanto, é atípica. Medo pode ser interpretado como apatia, ansiedade como excitação ou hiperatividade. Essa falta de consciência interoceptiva pode explicar o comportamento explosivo (chamadas pela comunidade normalmente de crises de meltdown), pois muitas emoções só são sentidas quando elas se tornam muito intensas, provocando uma erupção.
Desafios interoceptivos também afetam a capacidade de autorregulação. Se você não sabe se está com fome, com sede ou com a bexiga cheia, pode se sentir desconfortável, apático ou estressado, mas não compreender o porquê. A frustração pode aumentar quando você não consegue explicar o que está incomodando.
Quando o sentido interoceptivo está prejudicado, certas respostas podem não ser reguladas. Por exemplo, esse pode ser o motivo pelo qual autistas adolescentes ou até adultos ainda faça xixi na cama ocasionalmente. Não se sentir “estranho” ou compreender tais alterações no corpo podem levar a um colapso. Pessoas autistas são mais sensíveis ao esgotamento e crises sensoriais por não perceberem que estão ultrapassando os seus limites.
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Texto traduzido livremente, com adaptações do post: Interocepção e Autismo: Desafios da Consciência Corporal do blog Autism Awareness Centre Inc
Carrossel autoral.







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