Como o autismo pode afetar as habilidades e interações sociais

Por se tratar de um espectro, o autismo pode afetar as pessoas de formas muito distintas, mas a maneira como as pessoas se comunicam, mantem e constroem relacionamentos são peças comuns de interação social que são sempre afetadas no transtorno.

O artigo Nonverbal Communication in Psychotherapy estima que até 65% da comunicação humana aconteça por meio de comportamentos não verbais. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais mais recente (DSM-5-TR), o autismo tem, por definição, déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso de gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal.

A compreensão destes déficits pode partir de um pressuposto de que autistas não possuem habilidades sociais, entretanto, com a compreensão mais adequada do diagnóstico e relatos de pessoas autistas, compreende-se que autistas possuem habilidades sociais preservadas na maioria das vezes, entretanto, manifesta essas habilidades sem seguir as regras sociais normalmente impostas como habilidades sociais.

Uma norma social geralmente se refere a algum comportamento que a sociedade ou a cultura torna “normal”. Espera-se que todos compreendam e adiram automaticamente a essas regras não escritas e divergir da norma pode ser considerado ofensivo. As normas são culturalmente vinculadas, portanto, pessoas de diferentes culturas podem ter conjuntos específicos de normas. Em alguns casos, o que é considerado norma social em um país pode ir contra as normas sociais em um país diferente.

O olhar nos olhos durante uma interação pode significar atenção e interesse para uma pessoa típica no ocidente. Uma pessoa autista, entretanto, pode lidar com sobrecarga sensorial e desconforto com o olhar, afetando sua atenção e atrapalhando a interação adequada. Isso não afeta a capacidade de comunicação entre as duas partes, mas pode afetar o vínculo que se forma entre elas, pois há um rompimento implícito de normas sociais culturalmente impostas. A mesma regra não se aplica em muitos países da asia, como o Japão, em que olhar diretamente nos olhos não é considerado um comportamento social tão importante.

Olhando por este lado, a comunicação inclusiva para pessoas autistas inclui o reconhecimento de que alguém pode se comunicar de formas diferentes do esperado por determinada cultura, e, ainda assim, validar esta forma e respeitar ela como uma maneira legítima de se comunicar.

No espectro, uma comunicação em que a fala é monótona não necessariamente significa apatia sobre o assunto. A literalidade e a comunicação direta não necessariamente significam grosseria. A monopolização de conversas em torno de interesses restritos não significa egocentrismo ou falta de interesse no outro. O uso de movimentos estereotipados, como pernas inquietas, não necessariamente significa ansiedade para sair daquela interação.

A dificuldade na integração considerada adequada entre a comunicação verbal e não verbal pode influenciar no interesse social ao longo da vida. Conforme o DSM, no autismo o interesse social pode ser ausente, reduzido ou atípico, seja manifestado pela rejeição dos outros, comportamentos passivos pela dificuldade de interação ou abordagem inadequadas que pareçam invasivas ou agressivas. Autistas podem relutar para compreender qual o comportamento considerado adequado em situações distintas, influenciando na aparente preferência por atividades solitárias ou por interações com pessoas muito mais jovens ou mais velhas. O desejo por estabelecer vínculos de amizades é preservado nos autistas, mas a compreensão completa ou realista do que significa esse vínculo e como se comportar em relação à isso pode ser afetado, influenciando em relações unilaterais ou baseadas unicamente em interesses compartilhados.

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